Web Summit: 4º dia debate moderação de conteúdo nas redes
Se no terceiro dia, a discussão focou nos possíveis usos da tecnologia, o último dia do evento foi sobre segurança. Assim, o quarto dia de Web Summit 2019 foi marcado pelo debate sobre moderação de conteúdo na internet.
Ao mesmo tempo em que a internet tem como premissa ser um ambiente livre, cresce o alerta sobre a proteção da democracia. O tópico ganha força diante dos recentes casos de campanhas políticas utilizando notícias falsas (fakes news) para manipular o público
A criatividade ainda traz os melhores resultados
Para abrir o dia, o CMO brasileiro do Burger King, Fernando Machado, deu uma aula de marketing e criatividade. Ele mostrou as mais recentes ações da empresa em todo o mundo, sempre usando da inovação e da ousadia para trazer os melhores resultados à marca.
Em recentes campanhas, o Burguer King levou clientes até as lojas do McDonald’s (sim, o maior concorrente). Lá, eles baixavam o novo app da marca em troca de Whoppers a 1 centavo de dólar.
Além disso, também entregou combos — em meio ao caótico trânsito da Cidade do México — aos motoristas presos no engarrafamento. Com isso, o Burger King demonstra porque levou 40 Leões de Cannes na última edição do prêmio.
Na sacada mais criativa (e mais ousada), Fernando mostrou como bateu de frente com a concorrente, que havia contratado o astro Neymar Jr. como garoto-propaganda. A resposta se deu no patrocínio do Stevenage, clube da quarta divisão inglesa com o segundo pior desempenho de sua liga.
Apesar da mínima relevância nos gramados, o clube está licenciado no FIFA 20, o maior game de futebol do mundo. A partir daí, a marca utilizou o uniforme do clube, com seu logo estampado, no modo Ultimate Team, que permite a criação de um elenco personalizado. Logo, Messi, Neymar e Cristiano Ronaldo estavam marcando golaços e comemorando junto às câmeras, ostentando a marca Burger King em seus peitos, e sendo compartilhados nas redes sociais.
Moderação de conteúdos em pauta
O Diretor de Política de Produtos e Moderação de Conteúdo do Google, David Graff, expôs a posição da empresa em relação à retirada de páginas de sua lista de resultados. De acordo com ele, a democratização permitida pela internet abriu caminho para que todos tivessem voz. “A internet possui a habilidade de juntar as pessoas marginalizadas ou que se sintam marginalizadas. Tudo isso em uma comunidade virtual para amplificar as suas vozes”, destaca.
Porém, ele diz que a internet também trouxe à tona pessoas com más intenções. É então que entra em jogo a moderação do Google.
Segundo o diretor, diversos assuntos e palavras já estão banidos de aparecerem em anúncios de palavras-chave. No entanto, ainda existe uma séria discussão sobre a retirada dos links da lista de resultados. Ele conta que a empresa recebe diversos tipos de pedidos de retirada diariamente. Eles vêm de governos e altas instituições, principalmente no que concerne discurso de ódio e fake news. Porém, cada caso é analisado individualmente antes de uma decisão.
A responsabilidade das empresas sobre o conteúdo
A última palestra do palco principal foi com a dinamarquesa Margrethe Vestager. A Comissária Europeia para Concorrência levantou mais uma vez o alerta sobre a responsabilidade das gigantes da internet sobre o conteúdo divulgado, principalmente em anúncios nas plataformas.
Famosa por impor multas e cobrar explicações das maiores redes sociais do planeta, Margrethe afirma que o modelo de algoritmos diminui a pluralidade de opiniões nas timelines. Assim, criam-se bolhas de pensamento, os perfeitos ambientes para fake news, difamação de adversários e, em sua essência, ataques à democracia.
Ela diz que medidas como a tomada pelo Twitter na última semana, que proíbe anúncios políticos na rede, podem ser um caminho seguido pelas demais plataformas. Estas precisam resgatar credibilidade e criar um ambiente mais democrático e verdadeiro.
O mesmo raciocínio foi construído no dia anterior por Brittany Kaiser, ex-funcionária da Cambridge Analytica. A estrela do documentário Privacidade Hackeada expôs estratégias ilegais de publicidade utilizadas em campanhas políticas em todo o planeta. Entre elas, a eleição de Donald Trump e a aprovação do Brexit.
Para Brittany, a maior ameaça para a democracia reside no tráfico dos dados.
Para encerrar, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, agradeceu mais uma oportunidade de transformar Lisboa, por uma semana, na capital mundial da inovação. Para ele, isso mostra que o país está de olho no futuro e com mente aberta para as novas tecnologias. Não é à toa que a capital portuguesa já se garantiu como sede das edições do Web Summit até, pelo menos, 2028.
O Web Summit foi uma excelente oportunidade de ampliar nossas visões, não apenas sobre internet, mas sobre valores, propósitos e ética. Levaremos ao Brasil excelentes oportunidades de negócios para nós e nossos clientes.